terça-feira, 1 de março de 2011

GRANDES MESTRES DA CAPOEIRA



MESTRE CANJIQUINHA

Washington Bruno da Silva, Mestre Canjiquinha nasceu em Salvador 25 / 11 / 1925 e viveu até 08 / 11 / 1994, filho de José Bruno da Silva um grande alfaiate e de Amália Maria da Conceição uma lavadeira.
Nascido no Maciel de baixo n°06 (em cima do armazém de Nicanor) localizado nas imediações do Pelourinho. Seu apelido foi dado por amigo devido a um samba de Roberto Martins o qual era a única coisa que sabia cantar, Canjiquinha Quente era o nome da música.
Seu primeiro contato com a capoeira foi num local conhecido como banheiro de seu Otaviano na frente de uma quitanda no Matatu Pequeno, Brotas na Baixa do Tubo. Num dia de domingo em 1935 um cidadão chamado Antonio Raimundo (Mestre Aberre) convidou Canjiquinha a participar da brincadeira que ali rolava, e a partir da agilidade demonstrada por Canjiquinha mestre Aberre decidiu-o treinar. Passou 8 anos aprendendo, quando seu mestre disse: - Meu filho você corre este lugar aí, o que você ver de bom você pega e de ruim você deixa pra lá.
Neste lugar encontrei homens como: Onça Preta, Rosendo, Chico Três Pedaços, Zé de Brotas, Silva Boi, Dudu, Maré e outros.
Neste meio tempo foi sapateiro, carregador de marmita, tirava carga na feira com jegue, foi goleiro do Ypiranga esporte clube, mecanógrafo, e também apresentador de shows folclóricos.
Foi um visionário da capoeira, dizia sempre aos seus alunos" A capoeira não tem credo, não tem cor, não tem bandeira, ela é do povo, vai correr o mundo". Tinha uma característica toda própria de tocar o berimbau, instrumento que segurava com a mão direita e tocava com a vaqueta na mão esquerda, mantendo o berimbau a altura do peito. Canjiquinha na sua ascensão, mesmo não tendo sido aluno do Mestre Pastinha foi Contra Mestre na academia deste. Ao sair fundou, já como Mestre, a sua própria academia. ASS. De capoeira Canjiquinha e seus amigos, fundada em 22/05/52, por onde passaram grandes capoeiras, alguns dos quais hoje renomados Mestres: Manoel Pé de Bode, Antonio Diabo, Foca, Roberto Grande, Roberto Veneno, Roberto Macaco, Burro Inchado, Cristo Seco, Garrafão, Sibe, Alberto, Paulo Dedinho (conhecido hoje como Paulo dos Anjos), Madame Geni (conhecido hoje como Geni Capoeira), Olhando Pra Lua (conhecido hoje como Lua Rasta), Brasília, Sapo, Peixinho Mine-saia, Papagaio, Satubinha, Vitos Careca, Cabeleira, Língua de Teiú, Urso, Bola de Sal, Boemia Tropical, Salta Moita, Melhoral, Lucidío, Bico de Bule, Bando, Dodô, Salomé, Mercedes, Palio, Cigana, Urubu de Botina, entre outros. Canjiquinha na sua academia jamais formou alunos, seguia a seguinte graduação: Aluno, Profissional, Contra Mestre, Mestre.
 
Na opinião de Mestre Canjiquinha a capoeira não existe divisão entre angola e regional, ele dizia que ele era capoeira e obedecia ao toque, se tocar maneiro jogo amarrado, se tocar apressado você apressa.
Mestre Canjiquinha dono de um repertório inesgotável de músicas e improvisos, tendo uma grande facilidade de comunicação com o publico, acho que devido a essas foi convidado a participar de alguns filmes como: O Pagador de Promessas, Operação Tumulto, Capitães de Areia entre outros, alem de algumas fotonovelas com Silvio César e Leni Lyra. 
“ Capoeira que é bom não cai
  Mas quando cai, cai bem ”

  MESTRE CAlÇARA - BA (1923 - 1997)
"Cada qual no seu cada qual","Roupa de homem não dá em menino" 

Antônio Conceição Moraes, , Mestre Caiçara, nasceu em Cachoeiro de São Felix, no recôncavo baiano, em 08 de maio de l924, foi discípulo de Antônio Rufino dos Santos (Aberrê), e  era membro do Conselho de Mestres da Associação Brasileira de Capoeira Angola quem já não ouviu falar do famoso Mestre Caiçara da Bahia? Cantador de primeira qualidade, contador de muitos casos e estórias da Capoeira, tem sempre uma boa reza para oferecer aos seus camaradas e por certo, aos não camaradas também. Figura muito conhecida das Festas de Largo de Salvador, Mestre Caiçara sempre está presente em qualquer festejo popular, portanto em sua camisa as cores vermelho e verde, promovendo sempre a sua Academia Angola São Jorge dos irmãos Unidos do Mestre Caiçara, cujo o nome também é o título de seu primeiro disco fonográfico gravado pela AMC, São Paulo, e encontrado ainda nas lojas de disco. Defensor radical das tradições africanas é sempre bom receber em Nagâ, Ketu, Gêge e Angola, suas bençãos e ouvir sua opinião sobre os grandes Capoeiras do passado e suas considerações sobre a Capoeira de hoje. Todas as tardes ele se encontrava no terreiro de Jesus confabulando, vendendo seu peixe e gingando,
Mas no dia 26 de agosto de 1997, ele nos deixou com sua arte e magia.









MESTRE COBRINHA VERDE - BA ( 1917 - 1983 )
"Dois angoleiros que entendem de luta não podem disputá-la, porque um quer vencer o outro e pode aplicar um golpe mortal"
Rafael Alves França, mandingueiro respeitadíssimo no seu percurso por este mundo de meu Deus. Nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA) em 1917. Com 4 anos de idade iniciou-se na Capoeira pelas mãos de Besouro, seu primo carnal. Além de seu primeiro mestre, Cobrinha Verde também bebeu da sabedoria de Maitá, Licurí, Joité, Dendê, Gasolina, Siri de Mangue, Doze Homens, Espiridião, Juvêncio Grosso, Espinho Remoso, Neco, Canário Pardo e Tonha. Foi 3° Sargento no antigo Quartel do CR em Campo Grande, tendo participado também da Revolução de 32 entre outras pelejas. Durante muitos anos ensinou em seu Centro Esportivo de Capoeira Angola Dois de Julho, com sede no Alto de Santa Cruz, s/ n°, no Nordeste de Amaralina.
Deixou esse mundo no ano de 1983.






Fonte: capoeiranacao.org 




José Gabriel Góes nasceu em Santo Amaro da Purificação, a 19 de março de 1929. Começou na Capoeira aos oito anos de idade, e nunca se formou em Capoeira, por convicção. "A capoeira nunca pára", diz ele. Sempre foi um excelente capoeira, dono de agilidade incomum. Conviveu com grandes expoentes da Capoeira. Desde 1966, quando integrou a delegação brasileira no Premier Festival International des Arts Nègres, em Dakar (Senegal), tornou-se um embaixador itinerante da Capoeira, tendo visitado muitos países e transmitido seus conhecimentos. Foi consagrado em algumas obras de Jorge Amado. Um dos mais requisitados tocadores de berimbau de toda a Bahia, Mestre Gato Preto é uma das figuras mais queridas no universo da Capoeira, graças à grandeza de seu caráter.






Mestre Gato Preto, a voz da experiência.

 

Revista Capoeira N°04, ano II. Páginas 08 a 11.

Por: Roger Spock

 

Neste 19 de março, ele completa setenta anos, cinqüenta dos quais envolvido com a Capoeira, mas continua firme na sua arte, para dar exemplo aos mais novos.

O garoto José Luiz Gabriel começou aos oito anos na Capoeira e, aos doze, todos achavam que ele já sabia tudo. Ele não acreditou nisso e continuou buscando novos aprendizados, como ainda faz até hoje. Nunca se formou em Capoeira, por convicção. Entende que o capoeirista não é um médico, que aprende tudo e se forma, para exercer sua profissão. "A Capoeira nunca pára", diz ele.

Depois de conviver com outros grandes expoentes da Capoeira, em Salvador/BA, mestre Gato Preto - nome que o notabilizou - se transformou, desde 1966, num embaixador itinerante da Capoeira, visitando muitos países e transmitindo seus conhecimentos para capoeiristas novos e velhos dos quatro cantos do mundo. Nesta entrevista exclusiva à Revista Capoeira, ele relata, sem reservas mentais, toda sua invejável experiência:

Como e quando foi seu encontro com a capoeira?

Comecei, aos oito anos, com meu pai, Eutíquio Lúcio Góes. Ele foi meu mestre. Aos doze anos de idade (1941), achavam que eu já não tinha mais nada para aprender. Os treinos eram num quartinho fechado. Ele atacava com uma esgrima (bastão de maculelê) ou facão, para eu me defender. Quando eu errava, ele acertava minha munheca (pulso). Até um dia que dei uma cabeçada forte e ele caiu. Quando se levantou, saiu correndo atrás de mim, ameaçando me cortar, e gritando: "Vem cá, moleque"! Aí parou de me ensinar.

Depois veio meu tio, João Catarino, aluno de Besouro, até que ele morreu de derrame, que a turma chamava de congestão. Passado esse período, veio Leo, Cobrinha Verde, mestre Waldemar e mestre Pastinha e também Gildo, Roberto e João Grande, que tocava berimbau e foi muito importante como capoeirista, na época. Na roda, João Pequeno, Moreno, Albertino, Valdomiro e eu fazíamos a bateria.

E seu contato com os mestres da época?

Havia, na Bahia, muitos mestres que jogavam bem, como Canjiquinha, Zéis, Vandir, Agulhão, Zacarias, Bom Cabelo. Outros, que não eram mestres, mas também jogavam muito bem, como Deodato e Bigodinho. Todos da Liberdade (bairro da Liberdade, em Salvador), de mestre Waldemar, eram bons, bons, muito bons! Tinha um encanador, que morreu com 28 anos, que foi um grande angoleiro!

Naquela época, quais eram, ao seu ver, os capoeiristas de maior destaque?

Na minha avaliação, João grande, no jogo-de-dentro. Na base do sapateado, foi o cabra Gilberto que se cuidou muito e hoje está bem velhinho.

Como era a instrumentação da Capoeira?

Três berimbaus (um gunga, um berra-boi e um viola), dois bodes (pandeiro), um ganzá de bambu (não o ganzá de metal) e um reco-reco. O primeiro berimbau fazia a angola; o segundo, o são bento grande e o terceiro, a angolinha. Era esta a bateria, acompanhada do canto.

Qual era o perfil do capoeirista naquele tempo?

O capoeirista era um trabalhador: um condutor, que tirava a cana; um estivador do cais do porto; um pedreiro; um carpinteiro; um eletricista; caixeiro-viajante; um marinheiro, enfim, era sempre um trabalhador que, independente da função profissional, jogava por amor, por lazer, um tipo de terapia. O capoeirista fazia aquilo por ser uma dança, que fazia ele se sentir bem e conseguir o que queria, através da concentração.

Não rolava dinheiro? Ninguém vivia da capoeira?

O dinheiro veio depois, com brincadeiras feitas na roda. Alguém pedia para o capoeirista pegar com a boca uma nota de dinheiro, colocada no chão, no meio da roda, em cima de um lenço vermelho.

Os dois parceiros saíam jogando até que um fosse imobilizado com um golpe de pé - não com a mão - e o outro pegasse a cédula. Era preciso deixar o adversário imóvel para não correr o risco de receber um chute no rosto. Depois de tudo, se abraçavam e o dinheiro era colocado na cabaça do berimbau, para pagar a rodada de cerveja, refrigerante ou pinga, depois da roda. Só aí entrava o dinheiro.

Nem os mestres tinham a capoeira como profissão?

Ninguém tinha. Todos eles eram operários, tinham sua profissão. Pastinha era tarefeiro, depois foi tomar conta de jogo; Daniel Noronha trabalhava na estiva; Canjiquinha e Caiçara, na Prefeitura; Paulo dos Anjos, como motorista; mestre Ferreira e eu, como armador. Ninguém vivia da capoeira. Eu vivi nela durante 40 anos sem ganhar um tostão!

Mas naquela época, se aprendia muito. Um grupo da Liberdade era levado para me visitar em Itapuan e um grupo jogava com o outro. O que tomasse uma rasteira e caísse de bunda no chão, perdia o jogo. Também não se podia sujar a roupa do adversário. Era falta de educação. Os mestres ficavam abraçados, conversando. Brincávamos a tarde toda!

E a capoeira atual?

O negócio evoluiu. Evoluir é muito bom, mas é preciso ter uma raiz, um início para a coisa não andar para um lado contrário, pois esta arte é rica demais! A capoeira é sua vida, minha e de muitos outros. Não se tem como controlar isso. Daí, é preciso ter um domínio de educação para que ela não perca essa coisa linda que possui.

O que um capoeirista precisa para se tornar mestre?

Para começar não existe formatura em capoeira. Um ponto final, porque a capoeira não tem fim. Onde quer que você vá, irá vê-la. O mesmo vai acontecer com seu filho, seu neto, ou bisneto: onde quer que eles forem, irão vê-la. Ela é universal, ela anda, é dinâmica, não tem formatura como o médico que aprende tudo, se forma e vai cuidar da profissão.

O doutor da capoeira é a sabedoria. Para conseguir tem que prolongar a vivência na arte. Como? Dando um cordão ao menino e deixar ele treinar durante quatro anos, para se preparar e para se acostumar com a realidade. Para conseguir a sabedoria. Com dez anos, ele pode ser contra-mestre, através de pesquisas e estudos. Então, aos vinte anos de experiência ele pode ou não ter condições de ser mestre. Tudo depende da sabedoria e sabedoria nada tem a ver com a idade. Daí pode vir o título, dado pelos mestres, de "passou a estar pronto". Não significa estar formado, pois o trabalho e o aprendizado continuam. A capoeira não pára, não morre.

A capoeira temos 180 golpes e 180 contragolpes. Não se aprende dez ou doze golpes, falar que conhece seis golpes da regional, outros da angola e já sai dizendo que é capoeirista. È preciso conhecer, descobrir e confrontar todos os golpes.

Muitos não querem discutir ou aprender toda a capoeira. É aí que se acabam, porque não vão passar do mínimo que já sabem. Quem leva a pior nisto tudo é a própria capoeira, porque esse pessoal termina perdendo o talento que possui e afastam a capoeira da realidade dela.

O Sr. Se referiu a um tempo em que todos eram amigos, havia união. Hoje há muita rivalidade. O capoeirista forte e grande entra na roda disposto a destruir o outro. Que acha disso?
 

Naqueles tempos, os mestres se respeitavam entre si e incentivavam a consideração por parte dos alunos. O cara podia ser grandão, como Agulhão, que media dois metros de altura, ou forte como mestre Waldemar, Traíra, Zacarias, Davi ou Dada - que na época, davam o maior show de capoeira - mas havia um controle, um respeito. Quem tomava uma cabeçada, caía e se levantava para dar as mãos ao parceiro, sem agressividade ou rancor.

Hoje eu vejo que há muita gente ensinando a bater, querendo ser o melhor e enchendo a cabeça dos coitados, que não tem informação, de que isto é importante. São pessoas que só vêem o lado da destruição. Os mestres tornam-se culpados pelas conseqüências e a capoeira fica numa posição em que não pode mostrar seu potencial.

Isso também acontecia também entre os mestre antigos?

Não. Os únicos mestres que discutiam em Salvador, naquela época, eram Canjiquinha e Caiçara, mas tudo encenação, nas apresentações para turistas. Abusavam dos risos e das tapeações. Os dois morreram de bem um com o outro.

Bimba tinha academia no Maciel de Cima e Pastinha, no Largo do Pelourinho. Bem próximos. Não se visitavam, mas também não falavam mal da academia do outro. Tenho comigo reportagens de jornal de 1984 sobre João Pequeno e João Grande, em Itapuan. Precisa ver como eles se gostavam e se respeitavam!

Caiçara e Canjiquinha foram meus amigos até o fim de suas vidas. Alunos de Bimba mantém amizade comigo há 45 anos. Não tenho inimigos na capoeira e se tiver não serão contra mim, mas contra a arte. Não faço nada contra eles. Uns se destroem por si, outros se reeducam e aparecem sem entrar nessa de traição.

Mais recente, conheci alunos que chegam a querer bater em seus mestres, alegando que nada aprenderam. Sabe o que é isso? Falta de educação. O capoeirista tem que se educar, para respeitar e ser respeitado.(...)

MESTRE NORONHA
MESTRE NORONHA - BA (1909/1977)


O capoeira deve ser muito educado ao ser apresentado nos altos meios sociais. Se valente, deixar de lado esta vida que já se passou. Devemos adquirir lastro de amizade. É o que devemos fazer".
Daniel Coutinho, nasceu em Salvador (BA), na Baixa do Sapateiros e iniciou seu aprendizado na Capoeira com Cândido da Costa (Cândido Pequeno) aos 8 anos de idade. Foi engraxate, estivador, doqueiro, trapicheiro e ajudante de caminhão. Junto com Livino, Maré, Amorzinho, Aberrê, Percílio, Geraldo Chapeleiro, Juvenal Engraxate, Geraldo Pé de Abelha, Zehí, Feliciano Bigode de Seda, Bom Nome, Henrique Cara Queimada, Onça Preta, Cimento, Argemiro Grande, Argemiro Olho de Pombo, Antônio Galindeu, Antônio Boca de Porco, Cândido Pequeno (Argolinha de ouro), Lúcio Pequeno e Paquete do Cabula fundou o "Primeiro Centro de Capoeira Angola do Estado da Bahia", em Ladeira da Pedra, Gengibirra, na Liberdade. Com Livino fundou, também o "Centro de Capoeira Angola da Conceição da Praia". Deixou seus manuscritos organizados por Frede Abreu e publicados pelo Programa Nacional de Capoeira, intitulado "ABC da Capoeira Angola".



Mestre Paraná - BA (1923 - 1972) 



Osvaldo Lisboa dos Santos, conhecido como Mestre Paraná, foi um dos melhores tocadores de berimbau de todos os tempos. Nasceu em Salvador - Bahia - em 1923, sendo o primeiro a tocar berimbau na orquestra sinfônica do teatro municipal do Rio de Janeiro. Participou também no filme "O Pagador de Promessas". Esse angoleiro nato, foi aluno do Mestre Antônio Corró ex-escravo na Bahia, viajou por todo o Brasil, mostrando a capoeira e o som inigualável do seu "gunga", gravando um compacto duplo pela CBS (Capoeira Mestre Paraná), fato este o primeiro que se tem notícia. Convidado por Mercedes Batista, foi a Portugal divulgar a capoeira jogada no Brasil.
Mestre Paraná fundou o Grupo de capoeira São Bento Pequeno nos anos 50. No dia 7 de Março de 1972, no IAPASE (Rio de Janeiro), vítima de um súbito colapso cardíaco, morreu cantando o grande angoleiro, deixando uma lacuna em nossa capoeiragem.



MESTRE TRAÍRA - BA

José Ramos Do Nascimento, Capoeira de fama na Bahia, marcou época e ganhou notabilidade ímpar na arte das Rasteiras e Cabeçadas. Nodisco fonográfico, produzido pela Editora Xauã, intitulado "Capoeira" - hoje uma das raridades mais preciosas para os estudiosos e adeptos desta Arte - tem presença marcante envolvendo a todos os ouvites. Sobre a beleza e periculosidade do seu jogo, assim se referiu Jorge Amado: "Traíra, um cabloco seco e de pouco falar, feito de músculos, grande mestre de capoeira. Vê-lo brincar é um verdadeiro prazer estético. Parece bailarino e só mesmo Pastinha pode competir com ele na beleza dos movimentos, na agilidade, na rigidez dos golpes. Quando Traíra não se encontrana Escola de Waldemar, está ali por perto, na Escola de Sete Molas, também na Liberdade". Mestre Traíra também teve importante participação no filme "Vadiação", de Alexandre Robatto Filho, produzido em 1954, junto aos outros grandes capoeiristas baianos como Curió, Nagé, Bimba, Waldemar, Caiçara, Crispim e outros."

MESTRE WALDEMAR DA PAIXÃO
O MESTRE DA LIBERADADE






Mestre Waldemar da Paixão,ou conhecido também como Waldemar da Liberdade, nasceu no ano de 1918 tendo iniciado a prática da capoeira em 1936, já com 20 anos de idade, no bairro da Liberdade foi discípulo de Canário Pardo, Peripiri, Talabi, Siri-de-Mangue e Ricardo de Ilha de Maré: "Eu pedi a esses homens para me ensinar, para eu poder ficar profissional. Pra eu dizer que sabia, e sei mesmo. Aprendi capoeira", afirmou o mestre. Começou a ensinar capoeira em 1940, ano em que se iniciam as apresentações na Estrada da Liberdade: "Antes era ao ar livre. Depois eu fiz um barracão de palha e os capoeiristas da Bahia vinham todos para cá, para jogar". Aos poucos, a roda do mestre Waldemar foi se tornando um dos mais importantes pontos de encontro dos capoeiras baianos. Outros locais de reunião da capoeiragem eram, o Alto de Amaralina, onde mestre Bimba organizava rodas aos domingos: o tradicionalíssimo Largo do Pelourinho, onde a capoeiragem acontecia sob a direção de mestre Pastinha, e o Chame-Chame, onde ocorria a também famosa roda do mestre Cobrinha Verde. Waldemar conta um pouco dos personagens das antigas rodas, falando dos "valentões":

Tinha uns que usavam a navalha na cabeça e jogavam com o chapéu. Comprava um chapéu na loja, e não fazia ziguezague na copa, nada. Da forma que vinha eles usavam. Chapéu era canoado, copa redonda, que era a navalha presa com uma tira de borracha. Eu jogava de chapéu, mas não usava nada. Eu não quis usar essas coisas não. Sempre eu quis ficar de fora de zoada, de barulho. (...) Então esse valor eu tenho até hoje. Todo mundo me aprecia, todo mundo gosta. Chega aqui de ponta a ponta, não tem quem fale de mim, em assunto nenhum. Sei tratar todo mundo bem, não maltrato pessoa nenhuma".

Nas antigas rodas da capoeiragem, a literatura confirma isso, ocorriam eventualmente conflitos provocados pelos chamados "valentões". Mas essas figuras vivenciavam o ambiente da capoeira dentro de determinados limites, sobretudo respeitando os mais antigos e reconhecidos como mestres. O respeito ao mestre é, de fato, uma característica marcante da boa tradição da capoeira, e vemos os velhos mestres contarem com orgulho a posição que conquistaram nas rodas de seu tempo, dizia mestre Valdemar:

"Barulho eu não tive com ninguém, porque eu sempre fui respeitado, nunca ninguém me desafiou. Se me desafiava para jogar, mestre que aparecia aqui, a minha cabeça é que resolvia. (...) Me respeitavam muito, os meus alunos. E não tinha barulho, porque eu olhava para eles assim, eles vinham pro pé de mim e ninguém brigava".


"Quando eu tava jogando, eu dizia: toque uma angola dobrado. É embolado, ninguém dá um salto. É um por dentro do outro, passando, armando tesoura, se arriando todo. Parece que eu to vendo jogar. Eu joguei muito. (...) Eu gostava de jogar lento, pra saber o que eu faço. Pelo meu canto você tira. Eu canto pra qualquer menino jogar, e ele joga sem defeito. Para os meus alunos eu digo que vou cantar e eles já sabem o que eu quero: são bento pequeno. É o primeiro toque meu. Para o outro tocador eu digo: ‘de cima para baixo', e ele sabe que é são bento grande. Para a viola eu digo: repique, e ele bota a viola pra chorar".

Mestre Waldemar, além de grande jogador, era também conhecido como um dos maiores cantadores da capoeira da Bahia:
"Tenho orgulho inda na minha garganta, de gritar minhas ladainhas. Canto amarrado da capoeira angola. Isso eu não achei quem cantasse mais do que eu. Ainda não achei. Se mulher pariu homem, pra cantar não se cria...".O mestre dizia sobre a "orquestra" da capoeira:

"Primeiramente um bom berimbau tocando. Três berimbaus: um berra-boi, um viola e um gunga. Depois, agora nessa moda nova, apareceu o atabaque, mas eram três pandeiros, três berimbaus e um reco-reco. E o instrumento que acompanha o berimbau, para ajudar o berimbau, o caxixi, e tinha o agogô. Depois que colocaram o atabaque em roda de capoeira, mas não tinha isso".

Sobre esse trecho, cabe uma observação: sabemos que não se pode estabelecer um padrão rigoroso de como se organizavam as rodas da antiga capoeira, em termos de instrumentação musical, o que se comprova pelos depoimentos de outros velhos mestres, como Caiçara, Bobó, Canjiquinha, Ferreirinha e outros. Não podemos nos esquecer de que o improviso também é uma característica essencial da capoeira. A riqueza das antigas tradições da capoeira se encontra, segundo entendemos, em seus valores e fundamentos éticos e culturais, que são muito mais importantes do que detalhes como o número exato de cada instrumento que os mestres escolhiam para utilizar em sua roda. Outro comentário que pode ser feito também sobre a fala acima destacada diz respeito à utilização do atabaque: sabe-se que sua associação à prática da capoeira é anterior ao berimbau como se pode constatar, por exemplo, na gravura de Rugendas publicada em 1835. Naquela capoeira aparece um tambor, mas não há berimbau. No entanto, é provável que a prática da capoeiragem nas ruas com folguedo popular tenha, até mesmo por razões práticas, ocorridos por muitos anos sem a utilização de atabaques. Essa pode ser uma explicação para o fato de mestre Waldemar se referir ao uso do atabaque como "moda nova".

Retornando, então, temos um importante relato sobre como ocorriam suas aulas. Há uma tendência a se pensar que nos círculos da capoeira tradicional o aprendizado estava restrito à convivência informal com o mestre. É verdade que a sistematização de aulas de capoeira, com métodos de ensino com maior rigor, tem na capoeira regional sua origem, mas tem-se identificado entre os mestres mais antigos da angola diversas e interessantes formas de transmissão de seu conhecimento adotadas já nos anos 30 e 40. Mestre Waldemar relata como, em situações de ensino, sinalizava com gestos para os alunos determinando os movimentos que deveriam executar:

"Eu ensinava na roda, mas tinha os dias de treino. Eles estavam jogando e eu fazia sinal pra fazer tesoura, fazia sinal pra chibatear. Fazia sinal pro outro abaixar".

Assim, mestre Waldemar dava continuidade à tradição de ensino da capoeira angola, conforme aprendeu com diversos mestres, Referindo-se ao aprendizado com Siri de Mangue, antigo capoeira de Santo Amaro, disse Waldemar:

"Ele dava aquela volta e dizia: ‘Pegue na boca de minha calça'. Eu levava pra pegar na boca da calça dele e ele virava aquela carambola desgraçada e já cobria rabo-de-arraia. Quando eu ia levantando ele dizia: ‘Não levante não, lá vai outro'. Os alunos dele jogavam com a gente como que a gente já era bom. Chegava a riscar o chinelão, o sapato, deixar aquele risco. Naquele tempo tinha capoeira".

Depoimento do mestre Valdemar extraído da:
Revista Capoeira N°07, ano II (páginas 46 a 50)

Por: Luiz Renato Vieira











 

2 comentários:

  1. Boa noite,pq não falam do mestre onça preta. Cicero Navarro

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  2. Pois e um grande icone da capoeira mestre onca preta merece igual destaque que os outros mestres teve e tem.

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