quarta-feira, 2 de março de 2011

BREVE HISTÓRICO SOBRE A CAPOEIRA

A história da capoeira começa no século XVI, na época em que o Brasil era colônia de Portugal. A mão-de-obra escrava africana foi muito utilizada no Brasil, principalmente nos engenhos (fazendas produtoras de açúcar) do nordeste brasileiro. Muitos destes escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Os angolanos, na África, faziam muitas danças ao som de músicas. 
    Ao chegarem ao Brasil, os africanos perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores brasileiros. Eram constantemente alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Quando fugiam das fazendas, eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que tinham uma maneira de captura muito violenta.

Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Surgia assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.

A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar surgiu o nome desta luta.

Até o ano de 1930, a prática da capoeira ficou proibida no Brasil, pois era vista como uma prática violenta e subversiva. A polícia recebia orientações para prender os capoeiristas que praticavam esta luta. Em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O presidente gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional brasileiro.

A capoeira possui três estilos que se diferenciam nos movimentos e no ritmo musical de acompanhamento. O estilo mais antigo, criado na época da escravidão, é a capoeira angola. As principais características deste estilo são: ritmo musical lento, golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e muita malícia. O estilo regional caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas. Já o terceiro tipo de capoeira é o contemporâneo, que une um pouco dos dois primeiros estilos. Este último estilo de capoeira é o mais praticado na atualidade.



A capoeira é uma expressão cultural que mistura luta, dança, cultura popular, música. Desenvolvida por escravos africanos trazidos ao Brasil e seus descendentes, é caracterizada por movimentos ágeis e complexos, utilizando os pés, as mãos e elementos ginástico-acrobático. Uma característica que a distingue de outras lutas é o fato de ser acompanhada por música.
A palavra capoeira tem alguns significados, um dos quais refere-se às áreas de mata rasteira do interior do Brasil. Foi sugerido que a capoeira obtivesse o nome a partir dos locais que cercavam as grandes propriedades rurais de base escravocrata.
Durante o século XVI, Portugal enviou escravos para a América do Sul, provenientes da África Ocidental. O Brasil foi o maior receptor da migração de escravos, com 42% de todos os escravos enviados através do Atlântico. Os seguintes povos foram os que mais frequentemente eram vendidos no Brasil: grupo sudanês, composto principalmente pelos povos Iorubá e Daomé, o grupo guineo-sudanês dos povos Malesi e Hausa, e o grupo banto (incluindo os kongos, os Kimbundos e os Kasanjes) de Angola, Congo e Moçambique.
Os negros trouxeram consigo para o Novo Mundo as suas tradições culturais e religião. A homogeneização dos povos africanos sob a opressão da escravatura foi o catalisador da capoeira. A capoeira foi desenvolvida pelos escravos do Brasil como forma de resistir aos seus opressores, praticar em segredo a sua arte, transmitir a sua cultura e melhorar o seu moral. Há registros da prática da capoeira nos séculos XVIII e XIX nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro, e Recife, porém durante anos a capoeira foi considerada subversiva, sua prática era proibida e duramente reprimida. Devido a essa repressão, a capoeira praticamente se extinguiu no Rio de Janeiro, onde os grupos de capoeiristas eram conhecidos como maltas, e em Recife, onde segundo alguns a capoeira deu origem à dança do frevo, conhecida como o passo.
Em 1932, Mestre Bimba fundou a primeira academia de capoeira do Brasil em Salvador. Mestre Bimba acrescentou movimentos de artes marciais e desenvolveu um treinamento sistemático para a capoeira, estilo que passou a ser conhecido como Regional. Em contraponto, Mestre Pastinha pregava a tradição da capoeira com um jogo matreiro, de disfarce e ludibriação, estilo que passou a ser conhecido como Angola. Da dedicação desses dois grandes mestres, a capoeira deixou de ser marginalizada, e se espalhou da Bahia para todos os estados brasileiros
A música é um componente fundamental da capoeira. Ela determina o ritmo e o estilo do jogo que é jogado durante a roda de capoeira. A música é composta de instrumentos e de canções, podendo o ritmo variar de acordo com o Toque de Capoeira de bem lento (Angola) a bastante acelerado (São Bento Grande). Muitas canções são na forma de pequenas estrofes intercaladas por um refrão, enquanto outras vêm na forma de longas narrativas (ladainhas). As canções de capoeira têm assuntos dos mais variados. Algumas canções são sobre histórias de capoeiristas famosos, outras podem falar do cotidiano de uma lavadeira. Algumas canções são sobre o que está acontecendo na roda de capoeira, outras sobre a vida ou um amor perdido, e outras ainda são alegres e falam de coisas tolas, cantadas apenas para se divertir. Os capoeiristas mudam o estilo das canções freqüentemente de acordo com o ritmo do berimbau. Desta maneira, é na verdade a música que comanda a capoeira, e não só no ritmo mas também no conteúdo. O toque Cavalaria era usado para avisar os integrantes da roda que a polícia estava chegando; por sua vez, a letra é constantemente usada para passar mensagens para um dos capoeiristas, na maioria das vezes de maneira velada e sutil.
Os instrumentos são tocados numa linha chamada bateria. O principal instrumento é o berimbau , que é feito de um bastão de madeira envergado por um cabo de aço em forma de arco e uma cabaça usada como caixa de reverberação. O berimbau varia de afinação, podendo ser o Berimbau Gunga (mais grave), Médio (médio) e viola (mais agudo). Os outros instrumentos são: pandeiro, atabaque, caxixi e com menos freqüência o ganzá e o agogô.
Estilos de capoeira
Existem muitos tipos de capoeira. Os dois principais são a Capoeira Angola, e a Capoeira Regional.
Angola
A Angola é o estilo mais próximo de como os negros escravos jogavam a Capoeira. Caracterizada por ser mais lenta, porém rápida, movimentos furtivos executados perto do solo, como em cima, ela enfatiza as tradições da Capoeira, que em sua raiz está ligada ao rituais afro-brasileiros, caracterizado pelo Candomblé, sua música é cadenciada, orgânica e ritualizada, e o correto é estar sempre acompanhada por uma bateria completa de 08 instrumentos.
A designação "Angola" aparece com os negros que vinham para o Brasil oriundos da África, embarcados no Porto de Luanda que, independente de sua origem, eram designados na chegada ao Brasil de "Negros de Angola", vide ABC da Capoeira Angola escrito pelo Mestre Noronha quando ele cita o Centro de Capoeira Angola Conceição da Praia, criado pela nata da capoeiragem baiana no início dos anos 1920. Mestre Pastinha (Vicente Ferrera Pastinha) foi o grande ícone do estilo. Grande defensor da preservação da Capoeira Angola, inaugurou em 23 de fevereiro de 1941 o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA). Dos ensinamentos do Mestre Pastinha foram formados grandes mestres da capoeiragem Angola, a exemplo dos Mestres: João Pequeno, João Grande, Valdomiro Malvadeza, Albertino da Hora, Raimundo Natividade, Gaguinho Moreno, 45, Pessoa Bá-Bá-Bá, Trovoada, Bola Sete, dentre outros que continuam transmitindo seus conhecimentos para os novos angoleiros, como Mestre Morais.
É comum a primeira vista ver o jogo de Angola como não perigoso ou não elaborado, contudo o jogo Angola se assemelha ao xadrez pela complexidade dos elementos envolvidos. Por ter uma sistemática estruturada em rituais de aprendizado completamente diferentes da Regional, seu domínio é muito mais complicado, envolvendo não só a parte mecânica do jogo mas também características como sutileza, o subterfúgio, a dissimulação, a teatralização, a mandinga e/ou mesmo a brincadeira para superar o oponente. Um jogo de Angola pode ser tão ou mais perigoso do que um jogo de Regional.
Regional
A capoeira regional foi criada por Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado, 1899-1974)
Bimba criou sequências de ensino e metodizou o ensino de capoeira. Inicialmente, Bimba chamou sua capoeira de "Luta regional baiana", de onde surgiu o nome regional.
Manoel dos Reis Machado, conhecido por ser um habilidoso lutador nos ringues, e inclusive, ser um exímio praticante da capoeira Angola, procurou fazer com que a capoeira tivesse uma maior força como luta e fez isto incorporando a ela novos golpes. Um fato que é conhecido, é de que Bimba teria incorporado golpes do Batuque, uma luta já extinta, que era rica em golpes traumáticos e desequilibrantes. Inclusive, sabe-se que o pai de Mestre Bimba era praticante desta luta.
Há muita discussão também sobre se Bimba teria ou não absorvido golpes de outras lutas, como judô, o jiu-jitsu, a luta livre e o savate, luta de origem francesa, para compor sua capoeira Regional. Entre os velhos mestres, essa é a opinião vigente, mas, apesar disso, eles não acham que este fato seja negativo ou descaracterizador.
A Regional surgiu por volta de 1930. Mas Mestre Bimba se preocupou não só em fazer com que a capoeira fosse reconhecida como luta, ele também criou o primeiro método de ensino da capoeira, as "sequências de ensino" que auxiliavam o aluno a desenvolver os movimentos fundamentais da capoeira.
Em 1932, foi fundada por Mestre Bimba a primeira academia de capoeira registrada oficialmente, em Salvador, com o nome de "Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia".
Das muitas apresentações que Mestre Bimba fez, talvez a mais conhecida tenha sido a ocorrida em 1953, para o então presidente Getúlio Vargas, ocasião em que teria ouvido do presidente: "A capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional."
Na academia de Mestre Bimba, a rigorosa disciplina que vigorava determinava três níveis hierárquicos: "calouro", "formado" e "formado especializado". Uma das maiores honras para um discípulo era poder jogar Iúna, isto é, jogar na roda de capoeira ao som do toque denominado Iúna, executado pelo berimbau. O jogo de Iúna tinha a função simbólica de promover a demarcação do grupo dos formados para o grupo dos calouros. A única peculiaridade técnica do jogo de Iúna em relação aos jogos realizados em outros momentos no ritual da roda de capoeira era a obrigatoriedade da aplicação de um golpe ligado no desenrolar do jogo, além do fato de destacar-se pela maior habilidade dos capoeiristas que o executavam. O jogo de Iúna era praticado apenas ao som do berimbau, sem palmas ou outros instrumentos o que reforçava seu caráter solene. Ao final de cada jogo, todos os participantes aplaudiam os capoeiristas que saíam da roda.
A Regional é mais recente, com elementos fortes de artes-marciais em seu jogo. A Regional (Luta Regional Baiana) tornou-se rapidamente popular, levando a Capoeira ao grande público e mudando a imagem do capoeirista tido no Brasil até então como um marginal. Seu jogo é mais rápido, mas também existem jogos mais lentos e compassados. Apesar do que muitos pensam, na capoeira regional não são utilizados saltos mortais, pois um dos fundamentos da capoeira regional, segundo Mestre Bimba é manter no mínimo uma base ao solo (um dos pés ou uma das mãos). O forte da capoeira regional são as quedas, rasteiras, cabeçadas.
Em toques rápidos como São Bento Grande de Bimba se faz um jogo mais rápido, porém sempre com manobras de ataque e defesa (importante ressaltar que todos os golpes devem ter objetivo), mas sempre respeitando o camarada vencido (parar o golpe se perceber que ele machucará o parceiro, mostrando assim sua superioridade e humildade diante do camarada). Ambos os estilos são marcados pelo uso de dissimulação e subterfúgio - a famosa mandinga - e são bastante ativos no chão, sendo frequentes as rasteiras, pontapés, chapas e cabeçadas.
Repressão
Decretado por marechal Deodoro da Fonseca o Decreto Lei 487 dizia que: A partir de 11 de Outubro de 1890 todo capoeira pego em flagrante seria desterrado para a Ilha de Fernando de Noronha por um período de dois a seis meses de prisão. Parágrafo único: É considerada circunstância agravante pertencer o capoeira, a alguma banda ou malta, aos chefes impor-se-á a pena em dobro.
Os capoeiristas costumavam usar calças boca de sino e no período em que a capoeira ficou proibida por lei (1890-1937) a polícia, para detectar os capoeiristas, colocava um limão dentro das calças do indivíduo. Se o limão saísse pela boca das calças, a pessoa era considerada capoeirista.
Em 1824, os escravos que fossem pegos praticando capoeira recebiam trezentas chibatadas e eram enviados para a Ilha das Cobras para realizar trabalhos forçados durante três meses.
3 de agosto - Dia do capoeirista
Uma lei estadual de São Paulo de 1985 instituiu o Dia do Capoeirista

HISTÓRIA
A palavra capoeira, originada do tupi-guarani, significa “área de vegetação rasteira”. De acordo com a história, a origem da palavra se deve à formação dos quilombos, já que os escravos eram obrigados a se esconder nos matos para fugir. A mistura entre a dança da zebra (n’angolo, um estilo de dança angolana), tocada por um instrumento africano chamado de adufe, e golpes giratórios fez com que a técnica se difundisse como uma expressão da cultura genuinamente brasileira, significando muito mais do que o simples ato de lutar.
José de Alencar propôs para o vocábulo Capoeira o tupi Caaapuam era traduzido por ilha de mato já cortado. A partir daí surgiram novas polêmicas entre diversos autores e etimológicos.

A segunda informação sobre a palavra capoeira, tem como base a espécie de cesto em que se colocam galinhas, denominado capoeira.

Outra informação vem diretamente ligada ao próprio escravo. Os escravos eram exercitados numa espécie de dança a qual usava movimentos atléticos simulando golpes de uma luta. Durante a noite os escravos mais exercitados conseguiam se refugiar e se escondiam nas matas virgens mais próximas das senzalas. Ao amanhecer, os capitões-do-mato saíam em busca dos escravos fugidos e eram surpreendidos pelos escravos rebeldes que saiam para a capoeira, mata que se sucede a mata virgem que foi roçada, onde se travavam lutas e combates corpo-a-corpo nas quais os brancos captores se viam indefesos perante aquela nova forma de luta.

MACULELÊ



1 . O Maculelê é uma dança, um jogo de bastões remanescente dos antigos índios cucumbis. É o maculelê. Esta "dança de porrete" tem origem Afro-indígena, pois foi trazida pelos negros da África para cá e aqui foi mesclada com alguma coisa da cultura dos índios que aqui já viviam.
         A característica principal desta dança é a batida dos porretes uns contra os outros em determinados trechos da música que é cantada acompanhada pela forte batida do atabaque. Esta batida é feita quando, no final de cada frase da música os dois dançarinos cruzam os porretes batendo-os dois a dois.
         Os passos da dança se assemelham muito aos do frevo pernambucano, são saltos, agachamentos, cruzadas de pernas, etc. As batidas não cobrem apenas os intervalos do canto, elas dão ritmo fundamental para a execução de muitos trejeitos de corpo dos dançarinos.
         O maculelê tem muitos traços marcados que se assemelham a outras danças tradicionais do Brasil como o Moçambique de São Paulo, a Cana-verde de Vassouras-RJ, o Bate-pau de Mato Grosso, o Tudundun do Pará, o Frevo de Pernambuco, etc.

2.    Se formos olhar pelo lado do conceito de que maculelê é a dança do canavial, teremos um outro conceito que diria ser esta uma dança que os escravos praticavam no meio dos canaviais, com cepos de cana nas mãos para extravasar todo o ódio que sentiam pelas atrocidades dos feitores. Eles diziam que era dança, mas na verdade era mais uma forma de luta contra os horrores da escravidão e do cativeiro. Os cepos de cana substituíam as armas que eles não podiam ter e/ou pedaços de pau que por ventura não encontrassem na hora.
         Enquanto "brincavam" com os cepos de cana no meio do canavial, os negros cantavam músicas que evidenciavam o ódio. Porém, eles as cantavam nos dialetos que troxeram da África para que os feitores não entendessem o sentido das palavras. Assim como a "brincadeira de Angola" camuflou a periculosidade dos movimentos da capoeira, a dança do maculelê também era uma maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança.

  3.  Uma outra versão diz que para se safarem das chibatadas dos feitores e capatazes dos engenhos, os negros dos canaviais se defendiam com pedaços de pau e facões. Aos golpes e investidas dos feitores contra os negros, estes se defendiam com largas cruzadas de pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas dos feitores de acordo com o abaixar e levantar do negro com os porretes em punho. Além desta defesa, os negros pulavam de um lado pro outro dificultando o assédio do feitor . Para as lutas travadas durante o dia, os negros treinavam durante a noite nos terreiros das senzalas com paus em chama que retiravam das fogueiras, trazendo ainda mais perigo para o agressor.

Lenda do Maculelê

   1.    Conta a lenda que a encenação do Maculelê baseia-se em um episódio épico ocorrido numa aldeia primitiva do reino de Iorubá, em que, certa vez, saíram todos juntos os guerreiros para caçar, permanecendo na aldeia apenas 22 homens, na maioria idosos, junto das mulheres e crianças. Disso aproveitou-se uma tribo inimiga para atacar, com maior número de guerreiros.

Os 22 homens remanescentes teriam então se armado de curtos bastões de pau e enfrentado os invasores, demonstrando tanta coragem que conseguiram pó-los em debandada. Quando retornaram
os outros guerreiros, tomaram conhecimento do ocorrido e promoveram grande festa, na qual os 22 homens demonstraram a forma pela qual combateram os invasores.


   2.  Conta a lenda que a encenação do Maculelê baseia-se em um episódio épico ocorrido numa aldeia primitiva do reino de Iorubá, em que, certa vez, saíram todos juntos os guerreiros para caçar, permanecendo na aldeia apenas uns poucos homens, na maioria idosos, junto das mulheres e crianças. Disso aproveitou-se uma tribo inimiga para atacar, com maior número de guerreiros. Os homens remanescentes da aldeia, liderados pelo guerreiro de nome Maculelê, teriam então se armado de curtos bastões de pau e enfrentado os invasores, demonstrando tanta coragem que conseguiram pô-los em debandada. Quando retornaram os outros guerreiros, tomaram conhecimento do ocorrido e promoveram grande festa, na qual Maculelê e seus companheiros demonstraram a forma pela qual combateram os invasores. O episódio passou então a ser comemorado freqüentemente pelos membros da tribo, enriquecido com música característica e movimentos corporais peculiares. A dança seria assim uma homenagem à coragem daqueles bravos guerreiros.
    3.    Conta a história que Maculelê era um negro fugido que tinha doença de pele. Ele foi acolhido por uma tribo indígena e cuidado por eles, mas ainda assim não podia realizar todas as atividades com o grupo, por não ser um índio também. Certa vez, Maculelê foi deixado sozinho na aldeia, quando a tribo saiu para caçar. E eis que uma tribo rival aparece para dominar o espaço. Maculelê lutou sozinho contra o grupo rival e, heroicamente, venceu a disputa. Desde então passou a ser considerado um herói na tribo. A dança com bastões simboliza a luta de Maculelê contra os guerreiros.

No início deste século (o XX), com a morte dos grandes mestres do Maculelê de Santo Amaro da Purificação, o folguedo deixou de constar, por muitos anos, das festas da padroeira. Até que, em 1943, apareceu um novo mestre – Paulino Aluísio de Andrade, conhecido como Popó do Maculelê, considerado por muitos como o “pai do Maculelê no Brasil”. Mestre Popó reuniu parentes e amigos, a quem ensinou a dança, baseando-se em suas lembranças, pretendendo incluí-la novamente nas festas religiosas locais. Formou um grupo, o “Conjunto de Maculelê de Santo Amaro”, que ficou muito conhecido.
         É nos estudos desenvolvidos por Manoel Querino (1851-1923) que se encontram indicações de que o Maculelê seria um fragmento do Cucumbi, dança dramática em que os negros batiam roletes de madeira, acompanhados por cantos. Luís da Câmara Cascudo, em seu “Dicionário do Folclore Brasileiro”, aponta a semelhança do Maculelê com os Congos e Moçambiques. Deve-se citar também o livro de Emília Biancardi, “Olelê Maculelê”, um dos mais completos estudos sobre o assunto.
Emilia Biancardi escreveu Olelê Maculelê
Manoel Querino – (*1851- 1932*)
Luis da Câmara Cascudo escreveu - Dicionário do Folclore Brasileiro

terça-feira, 1 de março de 2011

PUXADA DE REDE

Puxada de rede de xaréu


A Puxada de rede surgiu após o período da escravidão, quando os negros não acharam oportunidades de se encaixar no mercado de trabalho e procuram seu sustento no mar. E assim uma parte destes negros se deslocam para as entranhas dos mangues, sendo que na região de Santo Amaro - BA , foi umas das primeiras cidades a ser visto negros trabalhando nesta área. A puxada da rede do xareu é uma das heranças mais interessantes dos tempos da escravidão.
 Convém salientar que, apesar de estar hoje praticamente extinta, a pesca do xareu (que se fazia principalmente nas águas das praias).

A representação desta dança mostra um trabalho, muito árduo, bastante recheado com poesia, religiosidade e música. Contando uma passagem em que numa certa noite de lua cheia, um pescador, decide ir pescar em alto mar. Ao se despedir de sua mulher, ela lhe avisa dos perigos de se pescar á noite e pede para que ele não vá. Mesmo assim ele decide ir, deixando sua esposa agoniada. Leva consigo seus amigos e companheiros de trabalho. Sua esposa fica á beira da praia esperando o seu retorno. Ela se assusta com o retorno, pois os tripulantes estavam todos tristonhos e alguns chorando, mas não vê seu marido e o procura desesperadamente. Ao desembarcar, os pescadores a contam que num descuido o marido dela havia caído no mar e devido a escuridão não foi possível encontrá-lo. Pela manhã, quando os pescadores desanimados com o acontecido, vão puxar a rede, e acabam encontrando o corpo do amigo pescador. Devido a situação precária em que eles viviam, não foi possível comprar um caixão para poder fazer o enterro e a procissão foi feita com ele nas costas .

SAMBA

Samba

O samba, esta musica contagiante já domina e toma conta dos salões mais adiantados do mundo, tem suas origens nos cantos e danças que os escravos negros da África trouxeram para o Brasil, na época do trafico negreiro.
Esses negros, de religião primitiva, promoviam em louvor de suas divindades, grandiosas festas publicas, essas cerimônias era acompanhada de festins, danças e muita musica, de ritmo singularmente sensual e frenético.
A origem da palavra samba seria provavelmente, uma derivação do quimbundo semba, que significa umbigada, ou do umbumdo samba que significa estar animado ou estar excitado.
Há também quem afirme que a palavra tenha sua ligação com a língua luba e com outras línguas bantas, nas quais samba significa pular ou saltar com alegria.

Tipos de Samba
A partir do semba que os viajantes portugueses descobriram no século XVIII (18) em Angola e no Congo, o etnólogo Câmara Cascudo descobriu três tipos de dança que continham a base do ritmo que originou os sambas brasileiros.
Essas danças são: a dança da umbigada, a de pares e a de roda. Essa música e essas danças foram trazidas para o Brasil pelos escravos e desenvolveram-se em uma área que vai desde o Maranhão até São Paulo.
Receberam, em cada Estado brasileiro, um nome diferente e um jeito diferente de ser tocadas. Dos nomes e das ramificações desse ritmo africano temos hoje:
·         O TAMBOR DE CRIOLA no Maranhão;
·         O BAMBELÔ no Rio Grande do Norte;
·         O COCO, E O MILINDO, no Piauí
·         O SAMBA no Ceará e na Paraíba;
·         O COCO DE PARELHA TROCADA, O COCO SOLTO, O TROCA PARELHA OU COCO TROCADO, O VIRADO E O COCO EM FILEIRA em Pernambuco;
·         O SAMBA DE RODA E O BATEBAÚ na Bahia;
·         O JONGO, O SAMBA-LENÇO, O SAMBA-RURAL E O SAMBA DE RODA em São Paulo;
·         O CAXAMBÚ, O JONGO, O SAMBA E O PARTIDO ALTO no Rio de Janeiro.
 O Rio de Janeiro, já na sua condição de Distrito Federal, se tornou conhecido como a capital mundial do samba brasileiro, porque foi nesta cidade onde o samba se evoluiu, adquiriu sua diversidade artística e estabeleceu, na zona urbana, como um movimento de inegável valor social, como um meio dos negros enfrentarem a perseguição policial e a rejeição social, que via nas manifestações culturais negras uma suposta violação dos valores morais, atribuindo a elas desde a simples algazarra até a supostos rituais demoníacos, imagem distorcida que os racistas atribuíram ao candomblé, que na verdade era a expressão religiosa dos povos negros, de inegável importância para seu povo.

Portanto, é certo afirmarmos que o samba pode ser visto hoje como um ritmo que engloba vários outros, já que suas ramificações não param de crescer. Por exemplo, o pagode —ritmo que surgiu nas mídias entre as décadas de 70 e 80— é uma dessas novas manifestações advindas do samba.
Aí estão mais ramificações do samba:
Samba carnavalesco :
Designação genérica dada aos sambas criados e lançados exclusivamente para o carnaval. Os compositores tinham uma certa queda por este "gênero" (neste incluem-se as marchinhas) por visarem os gordos prêmios oferecido pela Prefeitura em seus concursos anuais de músicas carnavalescas.
Samba de meio-de-ano :
Qualquer samba despretensioso aos festejos carnavalescos.
Samba raiado ou chula:
Uma das primeiras designações recebidas pelo samba. Segundo João da Baiana 1, o samba raiado era o mesmo que chula raiada ou samba de partido-alto.
Samba de partido-alto:
Um dos primeiros estilos de samba de que se tem notícia. Surgiu no início do século XX, mesclando formas antigas (o partido-alto baiano) a outras mais modernas (como o samba-dança-batuques). Era dançado e cantado. Caracterizava-se pela improvisação dos versos em relação a um tema e pela riqueza rítmica e melódica. Cultivado apenas pelos sambistas de "alto gabarito" (daí a expressão partido-alto), foi retomado na década de 40 pelos moradores dos morros cariocas, já não mais ligado às danças de roda.
Samba-batido:
variante coreográfica do samba existente na Bahia.
Samba-corrido:
samba existente na Bahia, que não tem refrão.
Samba de morro:
 tradicionalmente conhecido como o samba autenticamente popular surgido no bairro do Estácio e que teve na Mangueira, um dos seus redutos mais importantes a partir da década de 30.
Samba de terreiro:
 composição de meio de ano não incluída nos desfiles carnavalescos. É cantado fora do período dos ensaios de samba-enredo, servindo para animar as festas de quadra, durante as reuniões dos sambistas, festas de aniversário ou confraternizações.
Samba-canção:
estilo nascido na década de 30, tendo por característica um ritmo lento, cadenciado, influenciado mais tarde pela música estrangeira. Foi lançado por Aracy Cortes em 1928 com a gravação Ai, Ioiô de Henrique Vogeler. Foi o gênero da classe média por excelência e a temática de suas letras era quase sempre romântica, quando não assumindo um tom queixoso. A partir de 1950, teve grande influência do bolero e de outros ritmos estrangeiros.
Samba-enredo:
estilo criado pelos compositores das escolas de samba cariocas em 1930, tendo como fonte inspiradora um fato histórico, literário ou biográfico, amarrados por uma narrativa. É o tema do samba-enredo que dá o tom do desfile em suas cores, alegorias, adereços e evoluções, pois este é o assunto que será desenvolvido pela escola durante a sua evolução na avenida.
Samba-choro:
variante do samba surgida em 1930 que utiliza o fraseado instrumental do choro. Entre as primeiras composições no estilo, figuram Amor em excesso (Gadé e Walfrido Silva/1932) e Amor de parceria (Noel Rosa/1935).
Samba carnavalesco:
designação genérica dada aos sambas criados e lançados exclusivamente para o carnaval.
Samba de breque:
variante do samba-choro, caracterizado por um ritmo acentuadamente sincopado com paradas bruscas chamadas breques (do inglês "break"), designação popular para os freios de automóveis. Essa paradas servem para o cantor encaixar as frases apenas faladas, conferindo graça e malandragem na narrativa. Luiz Barbosa foi o primeiro a trabalhar este tipo de samba que conheceu em Moreira da Silva o seu expoente máximo.
Samba-exaltação:
 samba de melodia longa e letra abordando um tema patriótico. Desenvolveu-se a partir de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas. Foi cultivado por profissionais do teatro musicado, do rádio e do disco depois do sucesso de Aquarela do Brasil (1939) de Ary Barroso. A ênfase musical recai sobre o arranjo orquestral que deve conter elementos grandiloqüentes, conferindo força e vigor ao nacionalismo que se quer demonstrar.
Samba de gafieira:
 modalidade que se caracteriza por um ritmo sincopado, geralmente apenas tocado e tendo nos metais (trombones, saxofones e trompetes) a força de apoio para o arranjo instrumental da orquestra. Criado na década de 40, o estilo, influenciado pelas "big-bands" americanas, serve sobretudo para se dançar.
Sambalada:
estilo de ritmo lento, surgido nas décadas de 40 e 50, similar ao das músicas estrangeiras lançadas na época (como o bolero e a balada, por exemplo) tido como um produto da manipulação das grandes gravadoras que tinham apenas finalidade comercial.
Sambalanço:
 modalidade que se caracteriza pelo deslocamento da acentuação rítmica, inventado na metade da década de 50, por músicos influenciados por orquestras de bailes e boates do Rio e de São Paulo que tinham como base os gêneros musicais norte-americanos, principalmente o jazz. Pode ainda ser definido como o estilo intermediário entre o samba tradicional e a bossa-nova, do qual Jorge Ben (Jor) foi o grande expoente.
Sambolero:
tipo de samba-canção comercial fortemente influenciado pelo bolero, que teve o seu apogeu também na década de 50. Imposto pelas grandes companhias de disco.
Samba-jazz:
 gênero comandado por Carlos Lyra e Nelson Luiz Barros e mais tarde cultivado por outros compositores ligados à Bossa-Nova que buscavam soluções estéticas mais populares como resposta ao caráter demasiadamente intimista de João Gilberto. Abriu espaço para o nascimento da MPB, através dos festivais de música promovidos pela TV Record de São Paulo, durante os anos 60.
Sambão:
considerado extremamente popular e comercial, o gênero conheceu seu momento de glória a partir dos anos 70, quando se pregava a volta do autêntico samba tradicional. Nada mais é do que uma apropriação muitas vezes indevida e descaracterizada do conhecido samba do morro.
Samba de moderno partido:
 modalidade contemporânea do gênero liderada pelo compositor Martinho da Vila, que mantém a vivacidade da percussão tradicional do samba aliada a uma veia irônica na temática de suas letras.
Samba de embolada:
modalidade de samba entoado de improviso. Segundo Câmara Cascudo, citado no Dicionário Musical Brasileiro de Mário de Andrade, os melhores sambas de embolada estão em tonalidades menores.
Samba-rumba:
tipo de samba influenciado pela rumba, ritmo caribenho em voga no Brasil na década de 50.
Samba-reggae:
misturado aos ritmos da Bahia, com forte influência da divisão rítmica do reggae.
Pagode –
Nascido em São Paulo , é vagamente ligado ao partido-alto – a melodia é fácil, linear e repetitiva, como o sambalada. É o chamado samba de fundo de quintal, comum também na Bahia e no Rio de Janeiro. Com letras românticas, usa instrumentos de percussão e teclado. Destacam-se os grupos Fundo de Quintal, Negritude Jr., Só Pra Contrariar, Raça Negra e Katinguelê

SAMBA DE RODA NA CAPOEIRA


Samba de roda é uma variante musical mais primitiva do samba, originário do estado brasileiro da Bahia, provavelmente no século XIX(19).
O samba de roda é um estilo musical tradicional afro-brasileiro, associado a uma dança que por sua vez está associada à capoeira. É tocado por um conjunto de pandeiro, atabaque, berimbau, viola e chocalho, acompanhado principalmente por canto e palmas
O Samba de Roda no Recôncavo Baiano, é uma mistura de música, dança, poesia e festa. Presente em todo o estado da Bahia, o samba é praticado, principalmente, na região do Recôncavo. Mas o ritmo se espalhou por várias partes do país, sobretudo Pernambuco e Rio de Janeiro.
A manifestação está dividida em dois grupos característicos: o samba chula e samba corrido. No primeiro, os participantes não sambam enquanto os cantores gritam a chula – uma forma de poesia. A dança só tem início após a declamação, quando uma pessoa por vez samba no meio da roda ao som dos instrumentos e de palmas. Já no samba corrido, todos sambam enquanto dois solistas e o coral se alternam no canto.
O samba de roda é uma das variações do batuque de Angola. Conforme reza a tradição, no meio da roda, e ao som de palmas, coro e objetos de percussão um dançarino sambava sozinho. Depois de certo tempo, através de uma umbigada, convidava um dos presentes para substituí-lo. A orquestra de samba geralmente é composta por pandeiros, viola, chocalho, prato de cozinha arranhado por uma faca e, às vezes, por berimbau. O canto é puxado por uma pessoa, respondido pelos demais, acompanhado por palmas.

GRANDES MESTRES DA CAPOEIRA



MESTRE CANJIQUINHA

Washington Bruno da Silva, Mestre Canjiquinha nasceu em Salvador 25 / 11 / 1925 e viveu até 08 / 11 / 1994, filho de José Bruno da Silva um grande alfaiate e de Amália Maria da Conceição uma lavadeira.
Nascido no Maciel de baixo n°06 (em cima do armazém de Nicanor) localizado nas imediações do Pelourinho. Seu apelido foi dado por amigo devido a um samba de Roberto Martins o qual era a única coisa que sabia cantar, Canjiquinha Quente era o nome da música.
Seu primeiro contato com a capoeira foi num local conhecido como banheiro de seu Otaviano na frente de uma quitanda no Matatu Pequeno, Brotas na Baixa do Tubo. Num dia de domingo em 1935 um cidadão chamado Antonio Raimundo (Mestre Aberre) convidou Canjiquinha a participar da brincadeira que ali rolava, e a partir da agilidade demonstrada por Canjiquinha mestre Aberre decidiu-o treinar. Passou 8 anos aprendendo, quando seu mestre disse: - Meu filho você corre este lugar aí, o que você ver de bom você pega e de ruim você deixa pra lá.
Neste lugar encontrei homens como: Onça Preta, Rosendo, Chico Três Pedaços, Zé de Brotas, Silva Boi, Dudu, Maré e outros.
Neste meio tempo foi sapateiro, carregador de marmita, tirava carga na feira com jegue, foi goleiro do Ypiranga esporte clube, mecanógrafo, e também apresentador de shows folclóricos.
Foi um visionário da capoeira, dizia sempre aos seus alunos" A capoeira não tem credo, não tem cor, não tem bandeira, ela é do povo, vai correr o mundo". Tinha uma característica toda própria de tocar o berimbau, instrumento que segurava com a mão direita e tocava com a vaqueta na mão esquerda, mantendo o berimbau a altura do peito. Canjiquinha na sua ascensão, mesmo não tendo sido aluno do Mestre Pastinha foi Contra Mestre na academia deste. Ao sair fundou, já como Mestre, a sua própria academia. ASS. De capoeira Canjiquinha e seus amigos, fundada em 22/05/52, por onde passaram grandes capoeiras, alguns dos quais hoje renomados Mestres: Manoel Pé de Bode, Antonio Diabo, Foca, Roberto Grande, Roberto Veneno, Roberto Macaco, Burro Inchado, Cristo Seco, Garrafão, Sibe, Alberto, Paulo Dedinho (conhecido hoje como Paulo dos Anjos), Madame Geni (conhecido hoje como Geni Capoeira), Olhando Pra Lua (conhecido hoje como Lua Rasta), Brasília, Sapo, Peixinho Mine-saia, Papagaio, Satubinha, Vitos Careca, Cabeleira, Língua de Teiú, Urso, Bola de Sal, Boemia Tropical, Salta Moita, Melhoral, Lucidío, Bico de Bule, Bando, Dodô, Salomé, Mercedes, Palio, Cigana, Urubu de Botina, entre outros. Canjiquinha na sua academia jamais formou alunos, seguia a seguinte graduação: Aluno, Profissional, Contra Mestre, Mestre.
 
Na opinião de Mestre Canjiquinha a capoeira não existe divisão entre angola e regional, ele dizia que ele era capoeira e obedecia ao toque, se tocar maneiro jogo amarrado, se tocar apressado você apressa.
Mestre Canjiquinha dono de um repertório inesgotável de músicas e improvisos, tendo uma grande facilidade de comunicação com o publico, acho que devido a essas foi convidado a participar de alguns filmes como: O Pagador de Promessas, Operação Tumulto, Capitães de Areia entre outros, alem de algumas fotonovelas com Silvio César e Leni Lyra. 
“ Capoeira que é bom não cai
  Mas quando cai, cai bem ”

  MESTRE CAlÇARA - BA (1923 - 1997)
"Cada qual no seu cada qual","Roupa de homem não dá em menino" 

Antônio Conceição Moraes, , Mestre Caiçara, nasceu em Cachoeiro de São Felix, no recôncavo baiano, em 08 de maio de l924, foi discípulo de Antônio Rufino dos Santos (Aberrê), e  era membro do Conselho de Mestres da Associação Brasileira de Capoeira Angola quem já não ouviu falar do famoso Mestre Caiçara da Bahia? Cantador de primeira qualidade, contador de muitos casos e estórias da Capoeira, tem sempre uma boa reza para oferecer aos seus camaradas e por certo, aos não camaradas também. Figura muito conhecida das Festas de Largo de Salvador, Mestre Caiçara sempre está presente em qualquer festejo popular, portanto em sua camisa as cores vermelho e verde, promovendo sempre a sua Academia Angola São Jorge dos irmãos Unidos do Mestre Caiçara, cujo o nome também é o título de seu primeiro disco fonográfico gravado pela AMC, São Paulo, e encontrado ainda nas lojas de disco. Defensor radical das tradições africanas é sempre bom receber em Nagâ, Ketu, Gêge e Angola, suas bençãos e ouvir sua opinião sobre os grandes Capoeiras do passado e suas considerações sobre a Capoeira de hoje. Todas as tardes ele se encontrava no terreiro de Jesus confabulando, vendendo seu peixe e gingando,
Mas no dia 26 de agosto de 1997, ele nos deixou com sua arte e magia.









MESTRE COBRINHA VERDE - BA ( 1917 - 1983 )
"Dois angoleiros que entendem de luta não podem disputá-la, porque um quer vencer o outro e pode aplicar um golpe mortal"
Rafael Alves França, mandingueiro respeitadíssimo no seu percurso por este mundo de meu Deus. Nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA) em 1917. Com 4 anos de idade iniciou-se na Capoeira pelas mãos de Besouro, seu primo carnal. Além de seu primeiro mestre, Cobrinha Verde também bebeu da sabedoria de Maitá, Licurí, Joité, Dendê, Gasolina, Siri de Mangue, Doze Homens, Espiridião, Juvêncio Grosso, Espinho Remoso, Neco, Canário Pardo e Tonha. Foi 3° Sargento no antigo Quartel do CR em Campo Grande, tendo participado também da Revolução de 32 entre outras pelejas. Durante muitos anos ensinou em seu Centro Esportivo de Capoeira Angola Dois de Julho, com sede no Alto de Santa Cruz, s/ n°, no Nordeste de Amaralina.
Deixou esse mundo no ano de 1983.






Fonte: capoeiranacao.org 




José Gabriel Góes nasceu em Santo Amaro da Purificação, a 19 de março de 1929. Começou na Capoeira aos oito anos de idade, e nunca se formou em Capoeira, por convicção. "A capoeira nunca pára", diz ele. Sempre foi um excelente capoeira, dono de agilidade incomum. Conviveu com grandes expoentes da Capoeira. Desde 1966, quando integrou a delegação brasileira no Premier Festival International des Arts Nègres, em Dakar (Senegal), tornou-se um embaixador itinerante da Capoeira, tendo visitado muitos países e transmitido seus conhecimentos. Foi consagrado em algumas obras de Jorge Amado. Um dos mais requisitados tocadores de berimbau de toda a Bahia, Mestre Gato Preto é uma das figuras mais queridas no universo da Capoeira, graças à grandeza de seu caráter.






Mestre Gato Preto, a voz da experiência.

 

Revista Capoeira N°04, ano II. Páginas 08 a 11.

Por: Roger Spock

 

Neste 19 de março, ele completa setenta anos, cinqüenta dos quais envolvido com a Capoeira, mas continua firme na sua arte, para dar exemplo aos mais novos.

O garoto José Luiz Gabriel começou aos oito anos na Capoeira e, aos doze, todos achavam que ele já sabia tudo. Ele não acreditou nisso e continuou buscando novos aprendizados, como ainda faz até hoje. Nunca se formou em Capoeira, por convicção. Entende que o capoeirista não é um médico, que aprende tudo e se forma, para exercer sua profissão. "A Capoeira nunca pára", diz ele.

Depois de conviver com outros grandes expoentes da Capoeira, em Salvador/BA, mestre Gato Preto - nome que o notabilizou - se transformou, desde 1966, num embaixador itinerante da Capoeira, visitando muitos países e transmitindo seus conhecimentos para capoeiristas novos e velhos dos quatro cantos do mundo. Nesta entrevista exclusiva à Revista Capoeira, ele relata, sem reservas mentais, toda sua invejável experiência:

Como e quando foi seu encontro com a capoeira?

Comecei, aos oito anos, com meu pai, Eutíquio Lúcio Góes. Ele foi meu mestre. Aos doze anos de idade (1941), achavam que eu já não tinha mais nada para aprender. Os treinos eram num quartinho fechado. Ele atacava com uma esgrima (bastão de maculelê) ou facão, para eu me defender. Quando eu errava, ele acertava minha munheca (pulso). Até um dia que dei uma cabeçada forte e ele caiu. Quando se levantou, saiu correndo atrás de mim, ameaçando me cortar, e gritando: "Vem cá, moleque"! Aí parou de me ensinar.

Depois veio meu tio, João Catarino, aluno de Besouro, até que ele morreu de derrame, que a turma chamava de congestão. Passado esse período, veio Leo, Cobrinha Verde, mestre Waldemar e mestre Pastinha e também Gildo, Roberto e João Grande, que tocava berimbau e foi muito importante como capoeirista, na época. Na roda, João Pequeno, Moreno, Albertino, Valdomiro e eu fazíamos a bateria.

E seu contato com os mestres da época?

Havia, na Bahia, muitos mestres que jogavam bem, como Canjiquinha, Zéis, Vandir, Agulhão, Zacarias, Bom Cabelo. Outros, que não eram mestres, mas também jogavam muito bem, como Deodato e Bigodinho. Todos da Liberdade (bairro da Liberdade, em Salvador), de mestre Waldemar, eram bons, bons, muito bons! Tinha um encanador, que morreu com 28 anos, que foi um grande angoleiro!

Naquela época, quais eram, ao seu ver, os capoeiristas de maior destaque?

Na minha avaliação, João grande, no jogo-de-dentro. Na base do sapateado, foi o cabra Gilberto que se cuidou muito e hoje está bem velhinho.

Como era a instrumentação da Capoeira?

Três berimbaus (um gunga, um berra-boi e um viola), dois bodes (pandeiro), um ganzá de bambu (não o ganzá de metal) e um reco-reco. O primeiro berimbau fazia a angola; o segundo, o são bento grande e o terceiro, a angolinha. Era esta a bateria, acompanhada do canto.

Qual era o perfil do capoeirista naquele tempo?

O capoeirista era um trabalhador: um condutor, que tirava a cana; um estivador do cais do porto; um pedreiro; um carpinteiro; um eletricista; caixeiro-viajante; um marinheiro, enfim, era sempre um trabalhador que, independente da função profissional, jogava por amor, por lazer, um tipo de terapia. O capoeirista fazia aquilo por ser uma dança, que fazia ele se sentir bem e conseguir o que queria, através da concentração.

Não rolava dinheiro? Ninguém vivia da capoeira?

O dinheiro veio depois, com brincadeiras feitas na roda. Alguém pedia para o capoeirista pegar com a boca uma nota de dinheiro, colocada no chão, no meio da roda, em cima de um lenço vermelho.

Os dois parceiros saíam jogando até que um fosse imobilizado com um golpe de pé - não com a mão - e o outro pegasse a cédula. Era preciso deixar o adversário imóvel para não correr o risco de receber um chute no rosto. Depois de tudo, se abraçavam e o dinheiro era colocado na cabaça do berimbau, para pagar a rodada de cerveja, refrigerante ou pinga, depois da roda. Só aí entrava o dinheiro.

Nem os mestres tinham a capoeira como profissão?

Ninguém tinha. Todos eles eram operários, tinham sua profissão. Pastinha era tarefeiro, depois foi tomar conta de jogo; Daniel Noronha trabalhava na estiva; Canjiquinha e Caiçara, na Prefeitura; Paulo dos Anjos, como motorista; mestre Ferreira e eu, como armador. Ninguém vivia da capoeira. Eu vivi nela durante 40 anos sem ganhar um tostão!

Mas naquela época, se aprendia muito. Um grupo da Liberdade era levado para me visitar em Itapuan e um grupo jogava com o outro. O que tomasse uma rasteira e caísse de bunda no chão, perdia o jogo. Também não se podia sujar a roupa do adversário. Era falta de educação. Os mestres ficavam abraçados, conversando. Brincávamos a tarde toda!

E a capoeira atual?

O negócio evoluiu. Evoluir é muito bom, mas é preciso ter uma raiz, um início para a coisa não andar para um lado contrário, pois esta arte é rica demais! A capoeira é sua vida, minha e de muitos outros. Não se tem como controlar isso. Daí, é preciso ter um domínio de educação para que ela não perca essa coisa linda que possui.

O que um capoeirista precisa para se tornar mestre?

Para começar não existe formatura em capoeira. Um ponto final, porque a capoeira não tem fim. Onde quer que você vá, irá vê-la. O mesmo vai acontecer com seu filho, seu neto, ou bisneto: onde quer que eles forem, irão vê-la. Ela é universal, ela anda, é dinâmica, não tem formatura como o médico que aprende tudo, se forma e vai cuidar da profissão.

O doutor da capoeira é a sabedoria. Para conseguir tem que prolongar a vivência na arte. Como? Dando um cordão ao menino e deixar ele treinar durante quatro anos, para se preparar e para se acostumar com a realidade. Para conseguir a sabedoria. Com dez anos, ele pode ser contra-mestre, através de pesquisas e estudos. Então, aos vinte anos de experiência ele pode ou não ter condições de ser mestre. Tudo depende da sabedoria e sabedoria nada tem a ver com a idade. Daí pode vir o título, dado pelos mestres, de "passou a estar pronto". Não significa estar formado, pois o trabalho e o aprendizado continuam. A capoeira não pára, não morre.

A capoeira temos 180 golpes e 180 contragolpes. Não se aprende dez ou doze golpes, falar que conhece seis golpes da regional, outros da angola e já sai dizendo que é capoeirista. È preciso conhecer, descobrir e confrontar todos os golpes.

Muitos não querem discutir ou aprender toda a capoeira. É aí que se acabam, porque não vão passar do mínimo que já sabem. Quem leva a pior nisto tudo é a própria capoeira, porque esse pessoal termina perdendo o talento que possui e afastam a capoeira da realidade dela.

O Sr. Se referiu a um tempo em que todos eram amigos, havia união. Hoje há muita rivalidade. O capoeirista forte e grande entra na roda disposto a destruir o outro. Que acha disso?
 

Naqueles tempos, os mestres se respeitavam entre si e incentivavam a consideração por parte dos alunos. O cara podia ser grandão, como Agulhão, que media dois metros de altura, ou forte como mestre Waldemar, Traíra, Zacarias, Davi ou Dada - que na época, davam o maior show de capoeira - mas havia um controle, um respeito. Quem tomava uma cabeçada, caía e se levantava para dar as mãos ao parceiro, sem agressividade ou rancor.

Hoje eu vejo que há muita gente ensinando a bater, querendo ser o melhor e enchendo a cabeça dos coitados, que não tem informação, de que isto é importante. São pessoas que só vêem o lado da destruição. Os mestres tornam-se culpados pelas conseqüências e a capoeira fica numa posição em que não pode mostrar seu potencial.

Isso também acontecia também entre os mestre antigos?

Não. Os únicos mestres que discutiam em Salvador, naquela época, eram Canjiquinha e Caiçara, mas tudo encenação, nas apresentações para turistas. Abusavam dos risos e das tapeações. Os dois morreram de bem um com o outro.

Bimba tinha academia no Maciel de Cima e Pastinha, no Largo do Pelourinho. Bem próximos. Não se visitavam, mas também não falavam mal da academia do outro. Tenho comigo reportagens de jornal de 1984 sobre João Pequeno e João Grande, em Itapuan. Precisa ver como eles se gostavam e se respeitavam!

Caiçara e Canjiquinha foram meus amigos até o fim de suas vidas. Alunos de Bimba mantém amizade comigo há 45 anos. Não tenho inimigos na capoeira e se tiver não serão contra mim, mas contra a arte. Não faço nada contra eles. Uns se destroem por si, outros se reeducam e aparecem sem entrar nessa de traição.

Mais recente, conheci alunos que chegam a querer bater em seus mestres, alegando que nada aprenderam. Sabe o que é isso? Falta de educação. O capoeirista tem que se educar, para respeitar e ser respeitado.(...)

MESTRE NORONHA
MESTRE NORONHA - BA (1909/1977)


O capoeira deve ser muito educado ao ser apresentado nos altos meios sociais. Se valente, deixar de lado esta vida que já se passou. Devemos adquirir lastro de amizade. É o que devemos fazer".
Daniel Coutinho, nasceu em Salvador (BA), na Baixa do Sapateiros e iniciou seu aprendizado na Capoeira com Cândido da Costa (Cândido Pequeno) aos 8 anos de idade. Foi engraxate, estivador, doqueiro, trapicheiro e ajudante de caminhão. Junto com Livino, Maré, Amorzinho, Aberrê, Percílio, Geraldo Chapeleiro, Juvenal Engraxate, Geraldo Pé de Abelha, Zehí, Feliciano Bigode de Seda, Bom Nome, Henrique Cara Queimada, Onça Preta, Cimento, Argemiro Grande, Argemiro Olho de Pombo, Antônio Galindeu, Antônio Boca de Porco, Cândido Pequeno (Argolinha de ouro), Lúcio Pequeno e Paquete do Cabula fundou o "Primeiro Centro de Capoeira Angola do Estado da Bahia", em Ladeira da Pedra, Gengibirra, na Liberdade. Com Livino fundou, também o "Centro de Capoeira Angola da Conceição da Praia". Deixou seus manuscritos organizados por Frede Abreu e publicados pelo Programa Nacional de Capoeira, intitulado "ABC da Capoeira Angola".



Mestre Paraná - BA (1923 - 1972) 



Osvaldo Lisboa dos Santos, conhecido como Mestre Paraná, foi um dos melhores tocadores de berimbau de todos os tempos. Nasceu em Salvador - Bahia - em 1923, sendo o primeiro a tocar berimbau na orquestra sinfônica do teatro municipal do Rio de Janeiro. Participou também no filme "O Pagador de Promessas". Esse angoleiro nato, foi aluno do Mestre Antônio Corró ex-escravo na Bahia, viajou por todo o Brasil, mostrando a capoeira e o som inigualável do seu "gunga", gravando um compacto duplo pela CBS (Capoeira Mestre Paraná), fato este o primeiro que se tem notícia. Convidado por Mercedes Batista, foi a Portugal divulgar a capoeira jogada no Brasil.
Mestre Paraná fundou o Grupo de capoeira São Bento Pequeno nos anos 50. No dia 7 de Março de 1972, no IAPASE (Rio de Janeiro), vítima de um súbito colapso cardíaco, morreu cantando o grande angoleiro, deixando uma lacuna em nossa capoeiragem.



MESTRE TRAÍRA - BA

José Ramos Do Nascimento, Capoeira de fama na Bahia, marcou época e ganhou notabilidade ímpar na arte das Rasteiras e Cabeçadas. Nodisco fonográfico, produzido pela Editora Xauã, intitulado "Capoeira" - hoje uma das raridades mais preciosas para os estudiosos e adeptos desta Arte - tem presença marcante envolvendo a todos os ouvites. Sobre a beleza e periculosidade do seu jogo, assim se referiu Jorge Amado: "Traíra, um cabloco seco e de pouco falar, feito de músculos, grande mestre de capoeira. Vê-lo brincar é um verdadeiro prazer estético. Parece bailarino e só mesmo Pastinha pode competir com ele na beleza dos movimentos, na agilidade, na rigidez dos golpes. Quando Traíra não se encontrana Escola de Waldemar, está ali por perto, na Escola de Sete Molas, também na Liberdade". Mestre Traíra também teve importante participação no filme "Vadiação", de Alexandre Robatto Filho, produzido em 1954, junto aos outros grandes capoeiristas baianos como Curió, Nagé, Bimba, Waldemar, Caiçara, Crispim e outros."

MESTRE WALDEMAR DA PAIXÃO
O MESTRE DA LIBERADADE






Mestre Waldemar da Paixão,ou conhecido também como Waldemar da Liberdade, nasceu no ano de 1918 tendo iniciado a prática da capoeira em 1936, já com 20 anos de idade, no bairro da Liberdade foi discípulo de Canário Pardo, Peripiri, Talabi, Siri-de-Mangue e Ricardo de Ilha de Maré: "Eu pedi a esses homens para me ensinar, para eu poder ficar profissional. Pra eu dizer que sabia, e sei mesmo. Aprendi capoeira", afirmou o mestre. Começou a ensinar capoeira em 1940, ano em que se iniciam as apresentações na Estrada da Liberdade: "Antes era ao ar livre. Depois eu fiz um barracão de palha e os capoeiristas da Bahia vinham todos para cá, para jogar". Aos poucos, a roda do mestre Waldemar foi se tornando um dos mais importantes pontos de encontro dos capoeiras baianos. Outros locais de reunião da capoeiragem eram, o Alto de Amaralina, onde mestre Bimba organizava rodas aos domingos: o tradicionalíssimo Largo do Pelourinho, onde a capoeiragem acontecia sob a direção de mestre Pastinha, e o Chame-Chame, onde ocorria a também famosa roda do mestre Cobrinha Verde. Waldemar conta um pouco dos personagens das antigas rodas, falando dos "valentões":

Tinha uns que usavam a navalha na cabeça e jogavam com o chapéu. Comprava um chapéu na loja, e não fazia ziguezague na copa, nada. Da forma que vinha eles usavam. Chapéu era canoado, copa redonda, que era a navalha presa com uma tira de borracha. Eu jogava de chapéu, mas não usava nada. Eu não quis usar essas coisas não. Sempre eu quis ficar de fora de zoada, de barulho. (...) Então esse valor eu tenho até hoje. Todo mundo me aprecia, todo mundo gosta. Chega aqui de ponta a ponta, não tem quem fale de mim, em assunto nenhum. Sei tratar todo mundo bem, não maltrato pessoa nenhuma".

Nas antigas rodas da capoeiragem, a literatura confirma isso, ocorriam eventualmente conflitos provocados pelos chamados "valentões". Mas essas figuras vivenciavam o ambiente da capoeira dentro de determinados limites, sobretudo respeitando os mais antigos e reconhecidos como mestres. O respeito ao mestre é, de fato, uma característica marcante da boa tradição da capoeira, e vemos os velhos mestres contarem com orgulho a posição que conquistaram nas rodas de seu tempo, dizia mestre Valdemar:

"Barulho eu não tive com ninguém, porque eu sempre fui respeitado, nunca ninguém me desafiou. Se me desafiava para jogar, mestre que aparecia aqui, a minha cabeça é que resolvia. (...) Me respeitavam muito, os meus alunos. E não tinha barulho, porque eu olhava para eles assim, eles vinham pro pé de mim e ninguém brigava".


"Quando eu tava jogando, eu dizia: toque uma angola dobrado. É embolado, ninguém dá um salto. É um por dentro do outro, passando, armando tesoura, se arriando todo. Parece que eu to vendo jogar. Eu joguei muito. (...) Eu gostava de jogar lento, pra saber o que eu faço. Pelo meu canto você tira. Eu canto pra qualquer menino jogar, e ele joga sem defeito. Para os meus alunos eu digo que vou cantar e eles já sabem o que eu quero: são bento pequeno. É o primeiro toque meu. Para o outro tocador eu digo: ‘de cima para baixo', e ele sabe que é são bento grande. Para a viola eu digo: repique, e ele bota a viola pra chorar".

Mestre Waldemar, além de grande jogador, era também conhecido como um dos maiores cantadores da capoeira da Bahia:
"Tenho orgulho inda na minha garganta, de gritar minhas ladainhas. Canto amarrado da capoeira angola. Isso eu não achei quem cantasse mais do que eu. Ainda não achei. Se mulher pariu homem, pra cantar não se cria...".O mestre dizia sobre a "orquestra" da capoeira:

"Primeiramente um bom berimbau tocando. Três berimbaus: um berra-boi, um viola e um gunga. Depois, agora nessa moda nova, apareceu o atabaque, mas eram três pandeiros, três berimbaus e um reco-reco. E o instrumento que acompanha o berimbau, para ajudar o berimbau, o caxixi, e tinha o agogô. Depois que colocaram o atabaque em roda de capoeira, mas não tinha isso".

Sobre esse trecho, cabe uma observação: sabemos que não se pode estabelecer um padrão rigoroso de como se organizavam as rodas da antiga capoeira, em termos de instrumentação musical, o que se comprova pelos depoimentos de outros velhos mestres, como Caiçara, Bobó, Canjiquinha, Ferreirinha e outros. Não podemos nos esquecer de que o improviso também é uma característica essencial da capoeira. A riqueza das antigas tradições da capoeira se encontra, segundo entendemos, em seus valores e fundamentos éticos e culturais, que são muito mais importantes do que detalhes como o número exato de cada instrumento que os mestres escolhiam para utilizar em sua roda. Outro comentário que pode ser feito também sobre a fala acima destacada diz respeito à utilização do atabaque: sabe-se que sua associação à prática da capoeira é anterior ao berimbau como se pode constatar, por exemplo, na gravura de Rugendas publicada em 1835. Naquela capoeira aparece um tambor, mas não há berimbau. No entanto, é provável que a prática da capoeiragem nas ruas com folguedo popular tenha, até mesmo por razões práticas, ocorridos por muitos anos sem a utilização de atabaques. Essa pode ser uma explicação para o fato de mestre Waldemar se referir ao uso do atabaque como "moda nova".

Retornando, então, temos um importante relato sobre como ocorriam suas aulas. Há uma tendência a se pensar que nos círculos da capoeira tradicional o aprendizado estava restrito à convivência informal com o mestre. É verdade que a sistematização de aulas de capoeira, com métodos de ensino com maior rigor, tem na capoeira regional sua origem, mas tem-se identificado entre os mestres mais antigos da angola diversas e interessantes formas de transmissão de seu conhecimento adotadas já nos anos 30 e 40. Mestre Waldemar relata como, em situações de ensino, sinalizava com gestos para os alunos determinando os movimentos que deveriam executar:

"Eu ensinava na roda, mas tinha os dias de treino. Eles estavam jogando e eu fazia sinal pra fazer tesoura, fazia sinal pra chibatear. Fazia sinal pro outro abaixar".

Assim, mestre Waldemar dava continuidade à tradição de ensino da capoeira angola, conforme aprendeu com diversos mestres, Referindo-se ao aprendizado com Siri de Mangue, antigo capoeira de Santo Amaro, disse Waldemar:

"Ele dava aquela volta e dizia: ‘Pegue na boca de minha calça'. Eu levava pra pegar na boca da calça dele e ele virava aquela carambola desgraçada e já cobria rabo-de-arraia. Quando eu ia levantando ele dizia: ‘Não levante não, lá vai outro'. Os alunos dele jogavam com a gente como que a gente já era bom. Chegava a riscar o chinelão, o sapato, deixar aquele risco. Naquele tempo tinha capoeira".

Depoimento do mestre Valdemar extraído da:
Revista Capoeira N°07, ano II (páginas 46 a 50)

Por: Luiz Renato Vieira